A metacaspase é uma proteína que está diretamente envolvida com a morte de parasitas do gênero Leishmania, causadores da leishmaniose. Em um laboratório do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, cientistas trabalham na tentativa de elucidar os mecanismos que regulam a atividade desta proteína. Os estudos vêm sendo realizados sob a supervisão da professora Beatriz Simonsen Stolf, do Departamento de Parasitologia do instituto.
“A leishmaniose é considerada uma doença negligenciada, portanto conta com poucos recursos para pesquisas, mas atinge aproximadamente 12 milhões de pessoas no mundo”, explica Beatriz. Ela é uma das autoras de um artigo sobre o tema veiculado recentemente no jornal Cell Death and Disease, da Nature. O texto resulta da dissertação de mestrado do biólogo Mauricio Scavassini Peña, Identificação de ligantes da metacaspase de Leishmania (L.) amazonensis pela técnica de “phage display”, orientada por Beatriz.
Segundo a pesquisadora, o tratamento da doença é tóxico e nem sempre eficiente. “Alguns parasitas conseguem sobreviver e prosseguem com o processo de infecção”, descreve a professora. Na tentativa de melhor entender a proteína os cientistas a produziram sinteticamente. “Produzimos a metacaspase de Leishmania amazonensis, uma das espécies que causa a leishmaniose no Brasil”, conta. A partir daí, por meio de técnicas moleculares, utilizaram uma biblioteca contendo sequências de proteínas sintéticas. “Essas bibliotecas são adquiridas junto a empresas de biologia molecular”, explica Beatriz, ressaltando que “foi usado cerca de 1 bilhão de sequências na busca de proteínas que se ligassem e pudessem controlar a metacaspase”. A expectativa dos pesquisadores era encontrar uma proteína que aumentasse a atividade da metacaspase, gerando maiores possibilidades de morte do parasita.
Proteína protetora
Nos experimentos com as moléculas sintéticas, nenhuma foi capaz de aumentar a atividade da metacaspase. Ao contrário, os cientistas localizaram uma proteína que atua como “fortalecedora”, ajudando na sobrevivência do parasita: a ISP3. Tal atividade protetora da proteína foi testada em laboratório. “Aquecemos uma amostra de Leishmania a 37 graus centígrados, que é a temperatura aproximada do corpo humano, e colocamos a ISP3. Foi quando constatamos que a metacaspase teve sua capacidade reduzida em relação à morte do parasita”, descreve a pesquisadora.
Beatriz estima um prazo médio de dez anos para se buscar inibidores para a ISP3 – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O objetivo dos cientistas agora, a partir dessas constatações, é produzir em laboratório a Leishmania sem a proteína ISP3. “Ou ao menos tentarmos bloquear a atividade desta proteína e aumentar a atividade da metacaspase. Isso aumentaria a possibilidade de morte do parasita”, afirma Beatriz.
De acordo com a pesquisadora, o conhecimento adquirido até o momento em relação a estas proteínas (metacaspase e ISP3) será uma base importante para novos estudos que visem à morte do parasita e à consequente cura para a leishmaniose. “Podemos estimar um prazo médio de dez anos para buscarmos inibidores para a ISP3. Além disso, ainda serão necessários vários estudos”, acredita Beatriz.