Câmara aprova coleiras inseticidas

Prefeitura de Montes Claros admite eficácia contra a Leishmaniose, mas diz não ter recurso

Requerimento que prevê a colocação gratuita e maciça da coleira Scalibor (com inseticida) nos cães de rua de Montes Claros, com vistas a prevenir a Leishmaniose visceral, foi aprovado por unanimidade na Câmara Municipal.

“É melhor espantar o mosquito do que sacrificar o cão ou remediar um paciente. Acredito que a combinação das ações de castração, colocação de coleiras e vacinação possa reduzir a quantidade de Leishmaniose em Montes Claros”, afirmou o vereador Fábio Neves (PSB), autor do requerimento.

Ele reforça que os cães não são os vilões. “O transmissor da Leishmaniose é o mosquito, mas, com a grande quantidade de animais soltos nas ruas, o problema se acentua”.

Até 2016, o uso da coleira era parte das ações de combate ao mosquito e controle da doença. Por meio de parcerias com ONGs de proteção e clínicas veterinárias, os cães de rua eram testados, castrados, vermifugados, recebiam a coleira e eram devolvidos à mesma região em que eram recolhidos. O custo da castração era de R$ 200 a R$ 250, para cada macho e fêmea, respectivamente.

“O agente ia de casa em casa e cadastrava os animais. Foram mapeadas áreas de risco e ficou comprovado que o uso da coleira surtiu mais efeito do que a vacina”, disse um funcionário do CCZ, que pediu para não ser identificado e atuou em diversas dessas ações. Ao assumir a gestão, em 2017, o prefeito Humberto Souto abortou a medida.

“A situação se agravou porque a carrocinha não pode fazer o recolhimento e, com isso, aumentou a quantidade de cães na rua e, consequentemente, o risco”, apontou o servidor.

Exames

De acordo com informações da veterinária do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Marília Fonseca Rocha, em documento, no ano de 2019, foram examinados em inquérito urbano 8.751 cães, com 9,8% de positividade para a Leishmaniose. Destes, 645 foram eutanasiados. Na zona rural, foram examinados 67 cães, com 7,5% de positividade e cinco eutanasiados. “O pequeno número de animais examinados na área rural deve-se à baixa ocorrência de casos humanos, por isso, o trabalho é priorizado na área urbana”, explica o CCZ.

A vacinação, de acordo com a médica do CCZ, é inviável como medida de controle em saúde pública, por questões técnicas, eficácia não comprovada cientificamente, custo elevado (R$ 180/dose) e dificuldade operacional e de implantação, uma vez que a imunização se faz com três doses, em intervalos de 21 dias, e os cães precisam ser submetidos aos testes diagnósticos laboratoriais antes da vacinação.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que, apesar das evidências científicas da efetividade de coleiras impregnadas com inseticidas, o custo da medida extrapola a disponibilidade de recursos para o programa.

“Considerando uma população estimada de 74.214 cães, ao custo unitário de R$ 85 (preço do mercado local) e com uso de duas coleiras anuais por cão, a medida custaria aos cofres públicos R$ 12.616.380 ao ano”, informa a SMS, acrescentando que se encontra em tramitação no Ministério da Saúde uma proposta de incorporação das coleiras e Montes Claros deverá assinar o termo de adesão para usar a ferramenta em áreas urbanas prioritárias, conforme critérios estabelecidos pela Vigilância em Saúde, sem, entretanto, estipular prazos para adotar a medida.

Fonte: O Norte