Há quem diga que é na prática que se aprende. Uma Escola Municipal de Recife, propôs aos seus alunos uma aula de cidadania através da adoção de dois cães de rua.
Na Escola Municipal de Tempo Integral (EMTI) Antônio Heráclio do Rego, em Água Fria, o ensino sobre os cuidados com o meio ambiente e os animais ultrapassou a teoria e dá um exemplo de cidadania. Depois de adotar dois cachorros de rua, que recebem os cuidados de diretores, professores, funcionários e alunos, a unidade de ensino resolveu incluir os animais no projeto pedagógico Cãolega, que está sendo apresentado nesta sexta-feira.
Os cerca de 350 alunos desenvolveram trabalhos sobre os cuidados com os animais e a natureza. Os estudantes mostram hoje o resultado de atividades que tiveram como foco o tema Direito de ter, dever de cuidar. Foram realizadas pesquisas sobre preservação do meio ambiente, animais em extinção, adoção e cuidados com os animais e sobre o cão comunitário, cachorro que é cuidado por um grupo de pessoas e não apenas um único dono, como o que acontece na própria escola. O secretário-executivo de Direitos dos Animais, Rodrigo Vidal, participa da culimância do projeto e fará uma palestra sobre a responsabilidade de ser tutor de um animal e os cuidados necessários.
Há três anos, a vice-diretora Marília Oliveira resgatou da rua a cadela Júlia e a abrigou na escola. Ao perceber que os alunos se apegaram ao animal, a vice-gestora resolveu manter a cadela na escola. Após cinco meses, foi adotado outro cachorro que vinha fazendo companhia a Júlia e por isso foi batizado de Júlio. A partir disso, os professores passaram a trabalhar em sala de aula temáticas relativas aos animais. Para entrar em contato com as crianças e adolescentes, os cachorros foram vacinados, vermifugados e recebem acompanhamento de veterinários.
De acordo com a professora de português Juliana Ramos, o relacionamento dos estudantes com os animais mudou o comportamento dos alunos, gerando um processo de humanização, respeito e valorização do próximo. “Antes os alunos não se preocupavam em jogar o resto da comida no lixo e terminavam jogando no chão ou deixavam na mesa. Hoje isso não acontece porque eles sabem que se deixarem comida no chão os cães podem ingerir, o que é errado”, relata Juliana, que também faz parte do grupo Bicho Querido, que resgata animais abandonados e oferece um lar provisório até colocá-los para adoção. Segundo a docente, vários estudantes também adotaram cães em casa após a experiência na escola.
O diretor Arnóbio de Paiva lembra que no início os cães sofreram com a rejeição de algumas mães que achavam que os cachorros iriam fazer mal à saúde dos alunos. “Elas reclamavam do risco de os cachorros transmitirem doenças, mas depois perceberam que Júlio e Júlia ajudaram a despertar o lado humano dos estudantes”, lembra o gestor. Aluna do 8º ano, Franciny Oliveira, 14 anos, enfatiza que os cachorros tornaram a ida à escola mais divertida, além de melhorarem o convívio de todos na unidade de ensino.
“Acho que toda escola deveria ter um cachorro porque eles nos dão carinho e atenção pra gente, principalmente quando nos sentimos sozinhos. Esse apego com eles nos torna mais compreensivos com nossos colegas de classe”, ensina.