O melhor amigo do homem também tem sentimentos
Gregory Berns, professor de neuroeconomia da Universidade de Emory, usa exames de ressonância magnética para mapear as emoções dos cães
NOVA YORK – Cachorros têm sentimentos, defende Gregory Berns, professor de neuroeconomia da Universidade de Emory, nos Estados Unidos. Em artigo publicado no último sábado no jornal “New York Times”, ele afirma: “cachorros são pessoas”. Para chegar a esta conclusão, o pesquisador analisou dezenas de cães num aparelho de ressonância magnética. Os exames foram feitos com os animais completamente acordados, e não anestesiados. Para isto, foi necessário muito treinamento com adestradores, um esforço que permitiu mapear pela primeira vez as reações cerebrais dos cachorros a estímulos.
“Usando a ressonância magnética para analisar a estrutura cerebral dos cachorros, não podemos mais esconder a evidência. Cães, e provavelmente muitos outros animais (especialmente os primatas, nossos parentes mais próximos), parecem ter emoções como nós”, defendeu o especialista no artigo, no qual disse esperar que as pessoas deixem de tratar os bichos como se fossem objetos.
Assista o vídeo sobre a pesquisa (em inglês):
Foram pelo menos dois anos treinando cachorros para que os exames pudessem ser realizados. A primeira “voluntária” foi Callie, cadela de Berns. Treinada com a ajuda do adestrador Mark Spivak, e ensinada a entrar numa réplica do aparelho de ressonância magnética que o pesquisador construiu em casa. Ela não apenas aprendeu a ficar parada no local exato como teve que se adaptar aos protetores de ouvido, em razão da audição sensível aos 95 decibéis de ruído que o aparelho de verdade faz.
Depois de meses de treinamento e algumas tentativas num aparelho de ressonância de verdade, os pesquisadores conseguiram produzir os primeiros mapas da atividade cerebral de Callie. Além de medir as respostas do cérebro dela a estímulos, foi possível mapear as partes do cérebro que distinguem aromas familiares e não familiares.
Com o sucesso, novos voluntários aderiram ao trabalho. Em menos de um ano já havia uma dúzia de cães aptos aos exames de ressonância. Todos foram tratados “como pessoas”. Os cientistas enfatizaram que a participação do cão era voluntária e que, a qualquer momento, ele teria o direito de abandonar o estudo. Por fim, o compromisso era de que não haveria nenhuma sedação.
Os estudos, que ainda estão no início, indicam que há semelhanças entre cachorros e pessoas nas estruturas de funcionamento do chamado núcleo caudado, uma região relacionada aos mecanismos de recompensa. Nos cães, a atividade nesta parte do cérebro também ficou ativa quando o dono do animal reapareceu. Isto está sendo interpretado como um indicativo de que os animais amariam seus donos.
“A capacidade de experimentar emoções positivas, como o amor e o apego, significaria que os cães têm um nível de sensibilidade comparável a de uma criança humana. E essa capacidade sugere que devemos repensar a forma como tratamos os cães”, defendeu Berns.
O especialista vem criticando a forma como alguns animais são tratados. E reclama que as leis permitem que eles sejam tratados como coisas que podem ser descartadas, desde que o devido cuidado seja tomado para minimizar o seu sofrimento.
“Suspeito que a sociedade esteja muitos anos longe de considerar os cães como pessoas”, lamentou o cientista.
Fonte: O Globo