Histórias de Valor: Para o gari Alcenir Aguiar de Oliveira, o amor do cachorro não tem preço

Mineiro varre ruas do bairro de Campo Grande acompanhado de Pretinho, um vira-lata que usa uniforme da Comlurb e cordão dourado iguais aos do dono. Imagem dos dois viralizou na internet.

A Olimpíada no Rio de Janeiro em 2016 trouxe um prêmio para o gari Alcenir Aguiar de Oliveira, conhecido como Mineiro entre os colegas da Comlurb, a empresa de limpeza urbana da capital fluminense. Se para os atletas que se destacaram o evento trouxe medalhas, para ele trouxe um companheiro de quatro patas: o Pretinho.

O cachorro, um vira-lata (cão sem raça definida), entrou na vida dele durante as competições, quando o trabalhador cuidava da limpeza na região do Parque Olímpico de Deodoro, na Zona Oeste da cidade. Agora, o cão acompanha o gari com um pequeno uniforme da Comlurb. A dupla faz sucesso nas ruas e nas redes sociais.

“Eu fui trabalhar na Olimpíada a serviço da Comlurb e o encontrei pequenininho, abandonado em um posto de gasolina. Estava doente”, contou.

Decidido, Mineiro levou o cão para casa e cuidou para que se recuperasse. Em quase 3 anos de convivência, o carinho cresceu e hoje o gari considera Pretinho como um filho.

“Levei ele para casa e hoje é como se fosse uma medalhinha de ouro que eu levei para mim. É um cachorrinho que me dá reconhecimento, carinho e atenção”, destacou.

Mineiro, na verdade, não nasceu em Minas Gerais, mas lá perto. Ele é de Itaocara, no noroeste do Estado do Rio de Janeiro, região com sotaque similar ao do estado vizinho.

Sem medo de vassoura

E a proximidade entre os dois aumentou quando Pretinho começou a sair para “trabalhar” com Mineiro. Ele o acompanha na rotina de varrer ruas no bairro de Campo Grande, na Zona Oeste, uma ou duas vezes na semana. A ideia de levá-lo ao trabalho foi motivada pela saudade que o cachorrinho sentia.

“Ele começou a vir trabalhar porque, quando eu venho no carro, ele quer vir. Fica desesperado. Está acostumado a andar comigo e ele vem. Ele não atrapalha em nada, fica quietinho me aguardando. Se está cansadinho ele me espera na sombra”, destacou.

Durante o tempo que Mineiro trabalha na rua, o animal tem acesso à água e comida. O pelo brilhante e bem cuidado de Pretinho não nega que o animal é bem tratado.

Mas o gari conta que os cuidados dispensados ao animal não estão evidentes apenas na aparência, mas principalmente no comportamento.

“Ele entende as coisas. Às vezes, você fica na porta. Eu falo: ‘Pretinho, você está na porta, papai quer passar aqui’. E ele vai para o cantinho. Não precisa bater, não precisa. Nada. Eu pego a vassoura e varro perto dele e ele não corre, porque não é judiado. O cachorro, quando é judiado, quando você pega a vassoura e varre perto dele, ele sai correndo. Esse aqui não. É assim que o bichinho merece ser tratado”, revelou.

Trabalhador uniformizado

Como Pretinho acompanha o trabalho de limpeza, nada mais justo que também tenha um uniforme. Com uma camisa velha da roupa da Comlurb e a ajuda de uma costureira, o cachorro ganhou a roupinha de ajudante há um mês. Foi o suficiente para que o animal se tornasse a sensação do bairro.

“As pessoas param aí, saem do carro correndo para abraçar ele, para tirar foto, as pessoas se encantam”, explicou Mineiro.
Mas a semelhança com o dono não fica restrita ao uniforme. Está também nos acessórios.

“Esse cordão eu comprei em Campo Grande, na loja. Aí eu lembrei dele também. Comprei para ele”, contou o gari, apontando para o cordão idêntico no pescoço do cachorro.

Sucesso na internet

Há cerca de uma semana, uma foto de Mineiro e Pretinho caminhando em uma rua do bairro ganhou a internet e foi republicada em várias redes sociais. Desde então, algumas pessoas os reconhecem nas ruas. A forma como a imagem viralizou pegou a dupla de surpresa.

“Eu entendo pouco de internet. Eu não fiz para aparecer. Eu nem entendo. Se você me pedir uma explicação da internet eu nem sei. O celular que eu tinha era ruim. Não tinha essas coisas de internet. Agora que eu estou começando a mexer no zap”, destacou Mineiro.

Mesmo com a fama – e um certo assédio com pedidos de fotos durante o trabalho – o gari não pensa em deixar o cãozinho em casa.

“O dia que eu venho com ele eu fico muito mais alegre, mais feliz, fico mais tranquilo. Quando ele não vem eu fico louco para chegar em casa e encontrar ele. É saudade”, revelou.

Para ele, o amor do cachorro não tem preço. “O Pretinho para mim é tudo. É a minha alegria total. Se você me der um prêmio da Mega-Sena por ele, eu não quero”, finalizou.

Fonte: G1 Rio