Leishmaniose: seu cachorro pode estar contaminado sem você saber

A Leishmaniose é uma das doenças que mais afeta os cães no Brasil. Transmitida pela picada de mosquitos, a enfermidade pode causar problemas dermatológicos (perda de pelos em focinho, orelhas e região dos olhos), crescimento anormal das unhas, emagrecimento progressivo, anorexia, e dependendo das complicações e da evolução do quadro, o animal pode morrer. Muitas vezes, o cão está doente e o proprietário não percebe. Já há tratamento, porém a prevenção ainda é a melhor opção. Se prepare que vem textão!

Classificada entre as seis endemias prioritárias no mundo – segundo o Ministério da Saúde -, acometendo principalmente cães, gatos e humanos, a Leishmaniose é desconhecida por muitas pessoas. Os números da doença – segundo o Ministério da Saúde – revelam o impacto dela no Brasil: 90% dos casos da Leishmaniose Visceral Canina na América Latina acontecem no Brasil. Entre o ano de 2009 e 2013, 18 mil casos foram confirmados em humanos. A doença vem ganhando a atenção de todos, pois os casos estão aumentando a cada ano, assim como a taxa de mortalidade de cães e humanos.

A transmissão da Leishmaniose Visceral Canina ocorre pela picada das fêmeas infectadas do Lutzomyia longipalpis, conhecido como “mosquito-palha” ou “mosquito pólvora”. Primeiro o inseto infectado (vetor) pica o cão infectado (ou outros hospedeiros vertebrados, como gato, gambá, cavalo) e ingere a leishmania em sua forma amastigotas, que está presente no animal contaminado. Esta transforma-se dentro do intestino do vetor em promastigota, que é a forma infectante. Essa nova forma, através da picada do vetor irá infectar humanos e novos animais, destruindo seu sistema imunológico.

Algumas pessoas ainda acreditam que o cão pode transmitir a doença diretamente para o humano, mas isso é um mito. Mordidas, lambidas, arranhões e contato físico não passam leishmaniose de cães infectados para humanos. É necessário o inseto, para que possa haver a transmissão e transformação do parasita.

O grande problema desta enfermidade é a negligência. É tida como doença dos mais pobres e subnutridos, pois falecem aqueles que estão imunossuprimidos (com sistema imunológico fraco). Além disso, essa doença era mais comum em regiões afastadas dos grandes centros.

Segundo Fábio dos Santos Nogueira, médico veterinário, mestre e doutor em leishnmaniose, e professor da fundação educacional de Andradina, conhecida também como Calazar, a doença ficou restrita na década de 60, 70 e 80 ao nordeste. Em 1998, acorreu o primeiro caso em Araçatuba e se alastrou para todo sudeste e sul. O pior lugar ainda é Fortaleza.

Diferentemente do Aedes Aegypti (transmissor da dengue, zika e chikungunya), o vetor da leishmaniose não é um mosquito, pois não coloca o ovo em água parada. O díptero vetor da leishamania coloca seus ovos em matéria orgânica e escuro. Quintal com restos de frutas e folhas é o ambiente ideal para a reprodução do transmissor. Por isso, era muito conhecida em meio rural e silvestres. Porém, com a construção das estradas e o desmatamento, nós, humanos, trouxemos o inseto para a cidade. Ele se adaptou à vida urbana e está localizado em todas as regiões no brasil, de norte a sul e de leste a oeste. Inclusive pode estar rondando a sua casa agora.

Será que seu cão está contaminado?

Segundo o Professor Nogueira, 60% dos animais são infectados, mas não têm os sintomas. A doença pode ficar incubada de 3 meses a 6 anos. “O proprietário só leva à clínica quando já tem sintomas. Muitas vezes, por falta de informação o veterinário acaba indicando a eutanásia do animal” aponta.

Em 2015, foram 40 mil cães sacrificados com leishmaniose. Fora os outros animais não diagnosticados e os tratados. Por não ser uma doença de notificação compulsória, ou seja, o veterinário não tem obrigação de notificar órgãos de saúde, o número exato de cães com a doença não existe.

A primeira coisa a fazer é levar o seu peludo ao veterinário e solicitar um exame específico para diagnóstico da leishmaniose. Se o resultado for negativo, devemos partir imediatamente para a prevenção. Se for positivo, o tratamento deve ser iniciado e mantido para o resto da vida.

Prevenção

Repelentes em coleira são os mais indicados pelos veterinários. Basicamente são duas marcas que lideram o mercado: Scalibor e Seresto.

A deltametrina é o repelente recomendado pela Organização Mundial da Saúde para impedir o contato dos cães com o mosquito transmissor da leishmaniose visceral. Ela é recomendada mundialmente pelos principais especialistas das mais renomadas instituições de saúde.

Esta recomendação, segundo Andrei Nascimento, gerente técnico da unidade de negócios pet da MSD Saúde Animal, não se deu apenas pelo ingrediente ativo. Há uma grande quantidade de trabalhos científicos independentes publicados em diferentes condições de desafio, que mostravam bons resultados. Reduzindo, assim, não só a infecção nos animais, mas também nos seres humanos que conviviam com eles.

Todas as coleiras disponíveis no mercado, destinados à prevenção da leishmaniose, usam repelentes da mesma família de inseticidas (piretroides). Mas Andrei ressalta: “Além de um ingrediente ativo realmente eficiente, a coleira deva conter um sistema de liberação, que mantenha concentrações efetivas do ingrediente ativo durante todo o tempo”.

Coleira antileishmaniose é método mais eficaz para controle da doença em cães

Coleira antileishmaniose é método mais eficaz para controle da doença em cães

O que dificulta é o alto valor dessas coleiras no mercado. Para um cão de pequeno porte, a coleira pode custar até R$ 200,00.

Andrei justifica que a percepção de preço alto perde força quando diluído o custo pelo tempo de proteção. E sugere: “Alternativamente, as políticas de saúde do governo poderiam contemplar a incidência de taxas menores de impostos sobre esses produtos e a doação das mesmas nas áreas classificadas como de transmissão intensa”.

Sobre Scalibor, Andrei afirma que em estudos de segurança efetuados com a coleira e com o seu princípio ativo, comprovou-se que estes são altamente seguros para os cães e para a família. “O produto não tem cheiro, mantém o cão protegido por quatro meses, é resistente à água e auxilia no controle de carrapatos, pulgas e moscas. Porém, reações alérgicas, apesar de raras, são passíveis de acontecer com qualquer medicamento ou produto de uso veterinário ou humano” completa.

Caso o seu peludo apresente alguma reação ao produto, a indicação é remover a coleira por uma semana e recolocá-la novamente. “Os dados de farmacovigilância apontam que alguns animais apresentam esta intolerância apenas no primeiro contato. E não esquecer de, sempre que for utilizar algum produto ou medicamento no animal, consultar antes o médico-veterinário” alerta Andrei.

Com outra tecnologia, a coleira Seresto libera ativos na pele e no pelo de cães e gatos para o controle de pulgas e carrapatos e prevenção contra Leishmaniose, por até oito meses. A coleira é ajustável com trava de segurança, sem cheiro e resistente à água, liberando doses continuamente. Disponível em tamanho P (para animais até 8kg) e G (para animais com mais de 8kg).

Ana Lucia Rivera, gerente de marketing da Saúde Animal da Bayer, reforça que prevenir é o caminho mais simples e efetivo para garantir a saúde e bem-estar de todos. “Dentre os métodos disponíveis para a prevenção, o uso de inseticidas e repelentes no animal é a forma mais eficaz para evitar a transmissão aos humanos” lembra.

Vacina

Para proteger os cães, a Ceva Saúde Animal desenvolveu em parceria com a Universidade Federal do Estado de Minas Gerais (UFMG), a Leish-tec, única vacina recombinante do mercado contra a Leishmaniose.

A vacina foi desenvolvida a partir da proteína A2, classificada como um dos melhores antígenos capazes de induzir resposta imune celular, porque é específica e protetora contra a Leishmania.

Presente no mercado há 10 anos, a vacina passou por uma série de estudos. “ Os estudos mostram que a Leish-Tec induz resposta protetora em 96,41% dos cães vacinados. Além disso, os animais vacinados apresentam anticorpos anti-A2, demonstrando um alto nível de proteção individua e redução dos efeitos colaterais”, informa Diretor da Unidade de Negócios Pet da Ceva, Leonardo Brandão.

A vacina é recomendada para cães a partir de 4 meses de idade, clinicamente sadios e sorologicamente negativos contra a Leishmaniose. “O animal deve ser vacinado com três doses em intervalos de 21 dias e a revacinação é anual”, finaliza Brandão.

A vacinação dos cães é uma ferramenta importante na luta contra a leishmaniose. Devemos lembrar que além da vacinação, a proteção dos cães com um produto tópico repelente contra mosquitos é de suma importância para manter esses vetores afastados.

Tratamento em cães

Até então, cães acometidos pela doença eram indicados à eutanásia, pois são hospedeiros do vetor. É uma doença que leva ao óbito em até 90% dos casos não tratados.

Acontece que os Ministério da Agricultura e da Saúde aprovaram a comercialização no Brasil de um medicamento para tratamento da Leishmaniose Visceral Canina (não pode usar em humanos): o Milteforan, já disponível no mercado.

A veterinária e gerente técnica da Virbac, Fabiana Zerbini, esclarece que com o uso da medicação, o cão poderá obter a cura clínica e epidemiológica. Porém, apesar de reduzir significativamente a quantidade de parasitas e o cão deixar de ser transmissor da doença, a leishmania permanecerá em seu organismo. “Por esse motivo é muito importante o acompanhamento e monitoramento do animal por um médico veterinário com exames clínicos e laboratoriais. Além da repetição do tratamento, a fim de manter os níveis baixos da quantidade de parasitas” complementa.

Márcio Dentello Lustoza, diretor de assuntos regulatórios e desenvolvimento da Virbac, relembra que, embora o tratamento reduza significativamente a carga parasitária e melhore a condição clínica do animal, ele não elimina totalmente a Leishmania. Por esse motivo, deve ser realizado uso contínuo de produtos de ação repelente, além do acompanhamento periódico.

Para diminuir a quantidade de eutanásia, que era o recomendado até então, a empresa vem realizando uma série de ações interativas, através de ciclos de treinamento e educação continuada para os médicos veterinários, inclusive, com a utilização de plataformas online. Assim, todos os veterinários podem conhecer sobre esse novo passo na guerra contra a Leishmaniose, que é a aprovação e legalização do tratamento no Brasil.

Fabiana ressalta: “O tratamento dos cães é apenas uma dentro de um conjunto de outras medidas necessárias para a prevenção. A medida mais eficiente continua sendo o combate ao mosquito, impedindo-o de se multiplicar e de picar animais e humanos, através da utilização de repelentes”.

Se a situação já não fosse grave o bastante, estudos recentes apontam que provavelmente existe outro vetor, novos insetos transmitindo a leishmaniose. Em fatos raros, pulgas e carrapatos já transmitem a doença. O que você está esperando?! Leve seu peludo o quanto antes ao médico veterinário e comece já a prevenir essa doença, tida como umas das cinco piores do mundo.

Por Estadão