Casos de abandono têm chamado à atenção de toda sociedade montes-clarense. Cada vez mais, inúmeros animais são soltos na rua, muitas vezes saudáveis. A Prefeitura e o Centro de Controle de Zoonoses sempre recebem a culpa do caos animal na cidade. Mas, a pergunta que ecoa é, o que a população tem feito?
Para um cachorro, gato ou cavalo estar na rua é necessário que alguma pessoa abandone-o. Essa rejeição pode está associada a transtornos psicológicos. Neste fim de semana, alguns casos chamaram a atenção. O ataque de humanos a um jacaré do zoológico, um passeio do centro cheio de cachorros e outro sendo abandonado na porta do Centro de Zoonoses.
“A psicologia nos mostra que pessoas que maltratam animais poderão ser portadoras de transtornos da conduta ou da personalidade. De acordo com o Manual diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ‘agressão a pessoas e animais’ é um dos critérios diagnósticos para o transtorno de personalidade Anti-Social. Há um padrão comportamental repetitivo e persistente no qual não se respeita as normas sociais e os direitos básicos dos outros. Uma pessoa que maltrata um animal tem dificuldades de sentir empatia, sendo assim há uma probabilidade maior que no futuro ela venha maltratar uma pessoa”, explica a psicóloga Maria Luiza Lélis.
Uma pesquisa realizada pelo FBI, nos Estados Unidos, conclui que mais de 95% da população carcerária teriam cometido crueldade contra animais na infância e/ou na adolescência. A informação foi divulgada por Alessandra Brandão, no artigo Os Direitos dos Animais na Sociedade Contemporânea.
Ação protetora
Para minimizar os impactos gerados pelo abandono tanto na vida do animal como na rotina de uma cidade, protetores de animais acabam acolhendo em casa e cuidando dos abandonados. Amanda Cosenza é uma delas.
“Eu tenho 31 animais e gasto 500 quilos de ração por mês e a prefeitura não me ajuda em nada. Os cachorros que resgatamos não custam menos que mil reais para cuidar dele e não existe ninguém do governo para nos ajudar”, relata a protetora.
Amanda sugere que a maneira efetiva de acabar com o abandono de animais é aplicar multas.
“Uma pessoa quando abandona um cachorro o que acontece? Infelizmente, as pessoas hoje só sentem quando mexem no bolso delas, então deveria ter uma fiscalização e aplicabilidade de multas para quem abandonar e mal tratar animais. Além disso, que uma conscientização educacional seja feita com as crianças, elas nos ajudam a fiscalizar”, aconselha Amanda.
Dentro da Lei de Crimes Ambientais existe o artigo 32 que prevê punições aos crimes de maus tratos contra qualquer espécie de animal. A pena é detenção de três meses a um ano, além de multa de acordo com o agravo.
Abandono covarde
O vídeo que tem circulado nas redes sociais mostra um carro parando na porta do Centro de Zoonoses e abandonando um cachorro friamente. O animal ainda persegue o veículo, mas sem sucesso.
O Webterra entrevistou o coordenador do Centro, Luís Osmane Barbosa, ele explica que é difícil contabilizar os abandonos.
“Isso é feito em surdina, quando não tem ninguém vende ou fiscalizando. O abandono ocorre principalmente quando o cão é doente, o dono tende a rejeitá-lo sem tratamento. Hoje o CCZ tem uma política de recolhimento dos animais e castração quando ele é sadio e eutanásia quando é doente”, relata o coordenador.
Melhor amigo do homem
Há anos os animais, principalmente os cachorros, eram reconhecidos como o melhor amigo do homem, ocupando lugares, muitas vezes, da família.
“De mascotes a membros da família, os animais domésticos têm ganhado cada vez mais espaço na vida de seus donos, deixando de frequentar o quintal e passando a ocupar os cômodos da casa. Cada vez mais grupos de proteção animal se mobilizam em favor das causas animais, casos de abandono e crueldade têm ganhado visibilidade e chamado a atenção da sociedade. Recentes estudos comprovam que o ser humano tem preferido se relacionar com animais do que o próprio homem, o que tem preocupado profissionais da psicologia, antropologia e sociologia”, afirma a psicóloga, Maria Luiza Lélis.
Certa vez o humanista, Albert Schweitzer escreveu: “Em qualquer pessoa que, uma vez, chegue à conclusão de que a vida de qualquer animal é indigna de ser vivida, existe o risco de que um dia ela também chegue à conclusão de que a vida humana não vale nada”.
Por Webterra