ONGs curam e acolhem cachorros abandonados em Montes Claros

Cuidadores não têm apoio e trabalham muito para sustentar cães assistidos. ONG ‘Apelo Canino’ recebe cerca de 30 chamados por dia.

Em alguns casos, os cachorros são os melhores amigos do homem. Há quem os trate como parte da família, ofereça cuidados, proteção e abrigo. Ainda assim, uma triste realidade assombra quem ama os animais. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, só no Brasil existem mais de 30 milhões de animais domésticos abandonados; 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães.

Nas cidades de grande porte, como Montes Claros, para cada cinco moradores há um cachorro e 10% deles estão abandonados. As chances de sobrevivência nas ruas são quase nulas, conforme explica o veterinário Eugênio Teixeira.

“Grande parte dos cães que estão nas ruas são semi-domiciliados, ou seja, chegam a ser adotados, mas são abandonados por motivos que nos surpreendem. Muitas vezes, por crescerem demais, ficarem feios, fazerem cocô demais. São pessoas que não estão dispostas a cuidar de um ser vivo. Elas não se lembram de que, nas ruas, os cães estão sujeitos a serem envenenados por pessoas inescrupulosas, podem ser mal tratados, sofrer atropelamentos, pegar doenças venéreas, comer lixo ou mastigar algo que os leve a morte”, argumenta o veterinário.

Para ele, é da falta de conscientização das pessoas que surge a necessidade de se apoiar organizações não governamentais (ONGs). “Estas instituições são muito importantes, porque se não houver quem apoie a causa e busque influências, respaldo legal, pressionar o poder público, a sociedade se acomoda. Tem-se esquecido de que cachorros são seres vivos, com sentimentos. Não são coisas das quais nos empossamos e podemos guardar numa caixa”, afirma o veterinário.

Eugênio é voluntário da ONG Apelo Canino, além de atender em outras clínicas da cidade. O grupo existe formalmente desde 2010, mas atua em prol da causa há pelo menos 8 anos. Uma das fundadoras é a cuidadora e dona de casa Márcia Valadares. São mais de 20 pessoas associadas, e, ainda assim, a instituição não consegue atender toda a demanda.

“Nós recebemos, no mínimo, 30 chamados por dia. Não conseguimos chegar a atender 10% dos casos. Atualmente, são 79 cachorros morando no abrigo, e, enquanto as pessoas não adotarem, não podemos abrir vaga para outros”, explica Márcia. A instituição já conseguiu um terreno para expandir as instalações, e a expectativa é de que a capacidade de acolhimento aumente.

Os materiais, alimentos e remédios dos quais os cachorros precisam vem de muito trabalho. A equipe do “Apelo Canino” vende geladinhos todos os dias na porta de escolas e faz várias ações para manter o local. “Além dos eventos que realizamos, temos algumas doações em espécie de associados e colaboradores, mas principalmente dos nossos próprios voluntários. Isso não é suficiente. Para completar, realizamos o ‘Bazar da Pechincha’, mensalmente, no Mercado Municipal, com roupas e sapatos. E a principal fonte de renda são os geladinhos que vendemos na porta de uma escola. É o mais gostoso da cidade”, brinca a cuidadora.

Para fazer doação ou adotar um animalzinho basta entrar no site do Apelo Canino.

Casos mais graves

Há nove anos, outro grupo também atua em prol dos cães abandonados em Montes Claros. Os Amigos do Bicho desenvolvem ações de políticas públicas para ajudar os animais. De acordo com o administrador e fundador do grupo, Marcelo Barbosa, a legislação já avançou muito. “Já conseguimos aprovar várias propostas. A principal delas foi obrigar o município a castrar os cães, ao invés de matá-los”, diz.

Para Marcelo, muita coisa melhorou com o passar dos anos. Ele se lembra do quanto os órgãos públicos ofereciam resistência à causa, e hoje oferecem apoio. “No início, tudo era muito difícil. Só havia uma ONG em Montes Claros. Era tão complicado, que colocar um prato de ração na rua era comprar briga com vizinhos. Até que conseguimos uma veiculação maior nas mídias, apoio de órgãos como Ministério Público, Polícia Militar, e a partir de então as pessoas compreenderam a importância”, comenta.

Atualmente, além da parte legal, os Amigos do Bicho têm uma rede de colaboradores que acolhem cachorros em situação de extrema vulnerabilidade. A situação em que são encontrados, de acordo com os relatos de Marcelo, é assustadora.

“Já encontramos um animal que era estuprado pelo dono, tomamos a guarda via Justiça. Resgatamos um cão que teve a pata decepada, outro que comeu uma carne com bombas acesas dentro e teve a boca mutilada, fora milhares de casos com cortes de faca. Felizmente, uma rede de voluntários tem atuado, até fora de nossa ONG”, conta.

Até 2015, os Amigos do Bicho haviam resgatado 1.232 animais. Através de recurso próprio, os oito integrantes acolhem os cachorros em casa e cuidam até que eles estejam prontos para serem adotados. O trabalho não tem ajuda externa.

“A rede é totalmente independente. Cada cuidador compra ração, remédio, vacina e dá carinho àquele animal. Liberamos a adoção só depois da assinatura de um termo que autoriza que os membros do grupo façam visita ao cachorro a qualquer momento, para nos certificarmos de que tudo correu bem”, conclui. Saiba mais do trabalho desenvolvido pela ONG no site.

Fonte: G1 Grande Minas