Reunião com Ministério Público debate fechamento do zoológico de Montes Claros

Encontro, que envolveu ONGs e ambientalistas, também abordou a morte de um jacaré-de-papo-amarelo fêmea.

O fechamento do zoológico em Montes Claros, no Norte de Minas, voltou a ser debatido na tarde desta quarta-feira (29), durante uma reunião entre representantes da prefeitura, ONGs, Ibama e Ministério Público. O local foi fechado no último dia 27, sob a alegação da administração municipal de problemas com a gestão de custos e com a segurança patrimonial do espaço.

Durante a reunião foi debatida a possibilidade do zoológico virar um Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), sob a responsabilidade do IEF. Segundo a supervisora regional do órgão, Margarete Caires, uma equipe de especialistas é esperada para uma vistoria no espaço nesta quinta-feira (30).

“É uma categoria que recebe os animais silvestres, advindos de apreensões, recolhimentos e entrega voluntária. Ele não pode ter visitação da população. Estamos recebendo uma equipe de técnicos, de Belo Horizonte, para fazer uma vistoria técnica do local”.

Morte de jacaré
Outro ponto debatido foi a morte de um jacaré-de-papo-amarelo fêmea; o corpo do animal foi encontrado com sinais de violência na última sexta-feira (24). Na tarde desta terça (28), professores universitárias de cursos de medicina veterinária fizeram um exame necroscópico no jacaré.

O laudo, entregue ao Ibama no fim da tarde desta quarta-feira, confirma que a morte do animal foi por agressão, com múltiplas lesões. Segundo o Ibama, o laudo indica que a fêmea estava no período reprodutivo, já que foram encontrados ovos em diferentes estágios de formação, porém não foi constatado o estado embrionário.

“Vamos ter que aguardar as informações oficiais para verificar em que condições a agressão ao animal ocorreu. Em princípio, a prefeitura, a partir do momento que mantém o zoológico, ela tem que manter condições para que os animais tenham segurança”, afirmou a promotora Aluisia Beraldo Ribeiro, durante a reunião, antes do laudo ser entregue ao Ibama.

Necrópsia
O procedimento da necrópsia do jacaré durou três horas e meia e foi realizada em um ambiente do Zoológico por um patologista veterinária, uma professora do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais e sete estudantes do curso de medicina de Salinas e Montes Claros. A patologista Patrícia Natalícia Mendes de Almeida explica a importância do laudo pericial.

“Mediante a necrópsia, a gente consegue determinar a causa da morte do animal quando não se tem certeza do que provocou o óbito; com o procedimento, a gente esclarece dúvidas. É um trabalho técnico, bastante minucioso e que exige da equipe conhecimento em anatomia e fisiologia do animal. Também, precisa de conhecimento em patologias para saber das alterações dos órgãos”, explicou. A patologista é Mestre em produção animal sustentável e membro da Associação Brasileira de Patologia Veterinária.

Ela explica que o procedimento começa com uma avaliação externa e depois, inicia-se a abertura pelo pescoço e tórax para avaliar todos os sistemas do animal separadamente. Também inclui coleta de tecidos e de sangue para exames especiais.

“É de praxe fazermos esta coleta para exames detalhados, como o toxicológico – para saber se houve envenenamento no processo da morte. Geralmente, coleta-se conteúdo gástrico e até mesmo tecido adiposo, se for necessário. O trabalho ainda gera detalhes importantes como se houve agonia antes da morte e outros detalhes que ajudam nas investigações”, disse. A carcaça do jacaré ficou na responsabilidade do zoológico.

A Polícia Civil instaurou um procedimento para investigação.

Ambientalistas revoltados
O anúncio do fechamento do local criou revolta em muitos ambientalista, que cobram por uma solução da prefeitura e veem na decisão um retrocesso. “O animal que está no zoológico não tem condições de ser reabilitado, ele não pode ser solto. Eles são vítimas de tráfico e se estão no zoológico é uma forma de mantê-los vivos”, argumenta Délcio Rocha, zootecnista que participou da reunião.

O presidente do conselho fiscal da ONG AVE, Antônio Carlos Cuevas, também se mostrou contra o fechamento. Em nota a entidade afirma que os gastos com a manutenção do zoológico é bem abaixo dos R$ 200 mil divulgados pelo secretário de meio ambiente do município, Paulo Ribeiro. “Os gastos giram em torno dos R$ 45 mil. Este valor é baixo, levando em conta os benefícios que ele traz”, lamenta.

Ele afirmou ainda que o zoológico sofreu outros ataques criminosos desde o início do ano, além da morte recente do jacaré. “Agora um jacaré morreu, mas um macaco prego já foi atacado também. Tiveram ainda furtos; em uma ocasião levaram cerca de 100 quilos de carnes que eram destinadas aos animais”.

A prefeitura de Montes Claros alegou que não vai se pronunciar sobre a decisão do fechamento do zoológico.

Por G1 Grande Minas