Nos últimos meses, a administração do prefeito Luiz Tadeu Leite contratou diversas pessoas para o setor de combate à dengue, porém, o que se viu foi um expressivo número de casos confirmados. Enquanto isto, o setor de combate ao mosquito transmissor da leishmaniose visceral, o calazar, encontra-se sucateado: apenas 16 funcionários trabalham na borrifação.
Embora as autoridades sanitárias do município não admitam, Montes Claros está sob epidemia de dengue. E, além disso, nos últimos dois anos, já foram confirmados 72 casos de pessoas com calazar. O sistema da saúde na cidade está esfacelado em todos os aspectos.
A leishmaniose, popularmente conhecida como calazar, zoonose que, até o ano de 2007, na administração do ex-prefeito Athos Avelino (PPS), contava com números inferiores a 15 casos por ano, neste ano de 2010, até o dia 11 de março já contava com 17 casos confirmados, segundo um funcionário do setor responsável pelo combate ao calazar. A gerência regional de saúde afirma que tem conhecimento de 12 casos até o momento.
Dados da GRS em Montes Claros apontam que a maior cidade do Norte de Minas é a campeã de casos confirmados em toda a região norte-mineira e Vale do Jequitinhonha. Entretanto, existe a informação de uma fonte no CCZ – Centro de controle de zoonoses de que Montes Claros é a campeã em todo estado.
SEM TRANSPORTE PARA OS FUNCIONÁRIOS, MOSQUITO SE PROLIFERA NA CIDADE
Além de a equipe que trabalha no combate ao mosquito transmissor estar totalmente reduzida, apenas 16 pessoas para trabalhar com o borrifador, os funcionários não possuem veículos para o trabalho de borrifação.
Os trabalhadores têm que se locomover até as residências suspeitas em veículos próprios ou utilizar o transporte alternativo, mototaxi, e pagar a corrida do próprio bolso.
Uma fonte que trabalha na equipe de combate ao flebótomo, mosquito responsável pela transmissão do calazar, entrou em contato com a reportagem e, indignado com o sucateamento em que se encontra o setor, resolveu contar o abandono para chamar a atenção do poder público municipal.
“Eles ficam se preocupando com o combate à dengue e estão abandonando a equipe de combate ao calazar. Não temos nem como trabalhar. Temos que ir ao local suspeito nos nossos veículos ou de mototaxi”, afirma um funcionário da equipe que preferiu não se identificar com receio de represálias.
Aproximadamente 600 pessoas trabalham no combate à dengue em Montes Claros. “Se o combate à dengue é um fator primordial da atual administração, o combate ao calazar não poderia ficar de fora. Começamos com 40 funcionários e tínhamos veículos para ir até o local suspeito. Hoje, somente 16 pessoas trabalham e não temos nem como nos locomover”, afirma o funcionário.
EM 2009 COMEÇOU O SUCATEAMENTO DO SETOR, AFIRMA FUNCIONÁRIO
A disseminação da leishmaniose em algumas partes do país era uma afecção tipicamente rural, mas está se urbanizando em virtude das transformações climáticas e desmatamentos.
A emigração do homem da Zona Rural às grandes áreas metropolitanas com o flebótomo é a verdadeira causa do aparecimento do calazar com todas as suas implicações à saúde pública.
Em 2008, segundo a GRS – Gerência regional de saúde, 36 casos foram confirmados, número que se repetiu em 2009. Com o afastamento de alguns funcionários, outros que se aposentaram e o remanejamento de alguns para a equipe de combate à dengue, até o dia 11 de março, 17 casos foram confirmados, o que chama a atenção para uma possível pandemia na cidade.
No último ano da administração do ex-prefeito Athos Avelino, a prova de que a equipe de combate ao calazar estava estruturada é que 27.329 cães foram examinados, sendo que 2.178 estavam positivos. Com média de 2.278 exames mensais, 143 cães por mês eram sacrificados.
No primeiro ano da administração do prefeito Luiz Tadeu Leite, o número de cães examinados caiu para 22.102, redução de 19,13%. 2.111 cães estavam contaminados e 1.375 foram sacrificados.
Com o quadro de total abandono e descaso encontrado pelos funcionários do setor, em 2009 foram examinados em média 2.060 cães por mês. Neste ano de 2010, em três meses, somente 1.920 cães foram examinados, média mensal de 640 cães, redução de cerca de 68% em exames de cães. Dos cães examinados em 2010, 268 foram constatados positivos.
Segundo a nossa fonte, com as chuvas que caíram nos últimos dias a situação ficou propícia para disseminação do mosquito transmissor. “Eles aparecem por volta das 18h, ao anoitecer. Gostam de matérias orgânicas em decomposição, onde se proliferam. Galinheiros, embaixo de árvores, onde a terra fica úmida e sempre tem material orgânico, são lugares onde frequentemente o flebótomo costuma ficar e se reproduzir”, afirma o funcionário.
Ainda segundo o funcionário, o transmissor da leishmaniose, conhecido também como mosquito palha e cangalhinha, se alimenta de sangue, cães são os alvos principais. Ao sugar um cão contaminado, a partir daquele momento o mosquito também fica positivo e prolifera o vírus para outros cães em diversos lugares.
“Por isso, o combate através de borrifação é importante. Temos que combater o mosquito e não o cão. O cachorro não tem culpa nenhuma. Precisamos ter estrutura para trabalhar, senão a situação vai ficar alarmante”, afirma.
CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES NÃO ESTÁ FAZENDO TESTE DE CALAZAR EM DOMICÍLIO
Dois moradores do Bairro Renascença ligaram para o Centro de controle de zoonoses, porque suspeitavam que dois cães estavam contaminados. Perguntaram ao atendente se os funcionários poderiam ir até o local para coleta de sangue. Conforme afirmaram, o atendente disse que não tinha funcionários disponíveis para atender a domicílio e o proprietário do cão teria que levar o animal até o CCZ.
Um dos moradores afirmou ao atendente que não tinha veículo para levar o cão, e a resposta foi: – Aguarde a vez de seu bairro ser visitado, então.
Puro descaso e falta de preocupação com a saúde da população.
PREOCUPAÇÃO VEM DE LONGA DATA, MAS ABANDONO É RECENTE
No dia 12 de setembro de 2005, O NORTE informava:
– Funcionários do centro de controle de zoonoses fazem serviço de conscientização: objetivo é evitar surtos de calazar.
Preocupados em intensificar os trabalhos para diminuir os casos de leishmaniose – calazar no Norte de Minas, os funcionários do CCZ – Centro de controle de zoonoses estão fazendo um trabalho de conscientização com a população. Por falta do kit – material de coleta de sangue dos animais, os funcionários do CCZ estão montando um trabalho de vigilância para evitar surtos da doença.
Na oportunidade, havia funcionários e meios de transportes para os trabalhos de conscientização da população. Os funcionários visitavam as casas e mostravam aos moradores como é o mosquito transmissor da doença e como manter a higiene nas casas para evitar o contágio.
OUTRO LADO
Por volta das 17h, a reportagem tentou entrar em contato com o funcionário Joel Fontes, responsável pelo setor de combate ao calazar na cidade, porém, este já havia ido embora.
Fonte: O Norte